MAX PLANCK E A FÉ DE JOSUÉ

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cena de Gustav Doré, ´Josué ordenando ao sol que parasse´, em alusão à extraordinária passagem bíblica de Josué 10:12-14, em que o líder dos israelitas pede a Deus que faça o sol ´parar´ para que eles pudessem pelejar contra a famigerada raça dos ´amorreus´, que dominava a então conhecida terra de ´Canaã´. O trecho bíblico diz exatamente assim: "Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no Livro dos Justos? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. Não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, tendo o SENHOR, assim, atendido à voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel.".

Hoje é comum falar de fé, muitas vezes sem conceituação definida. Numa referência à fé bíblica, Jesus disse: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda […] nada vos será impossível”.1 Como que para precisar esta frase ousada, encontramos na Bíblia muitos relatos sobre homens e mulheres cujas vidas ilustram a dimensão à qual Jesus se referia.

Quando Moisés escolheu doze homens para espionar a terra de Canaã, Josué e Calebe estavam entre eles. “Depois de espionarem a terra quarenta dias, eles voltaram a Cades, no deserto de Parã, onde estavam Moisés, Arão e todo o povo de Israel. E contaram a eles e a todo o povo o que tinham visto e mostraram as frutas que haviam trazido da terra. Eles disseram a Moisés: 'Nós fomos até a terra aonde você nos enviou. De fato, ela é boa e rica, como se pode ver por estas frutas. Mas os que moram lá são fortes, e as cidades são muito grandes e têm muralhas.' Aí o povo começou a reclamar contra Moisés, mas Calebe os fez calar e disse: 'Vamos atacar agora e conquistar a terra deles; nós somos fortes e vamos conseguir isso!' Porém os outros que tinham ido com ele espalharam notícias falsas entre os israelitas a respeito da terra que haviam espionado. Então, naquela noite, todo o povo gritou e chorou. Todos os israelitas reclamaram contra Moisés e Arão e disseram: 'Seria melhor se tivéssemos morrido no Egito ou mesmo neste deserto!' E diziam uns aos outros: 'Vamos escolher outro líder e voltemos para o Egito!' Josué e Calebe rasgaram as suas roupas em sinal de tristeza e disseram ao povo: 'A terra que fomos espionar é muito boa mesmo. Se o Deus Eterno nos ajudar, ele fará com que entremos nela e nos dará aquela terra, que é rica e boa para plantar. Porém não sejam rebeldes contra o Eterno e não tenham medo. O Eterno está com a gente. Portanto, não tenham medo.' Apesar disso o povo ameaçou matá-los a pedradas.” E Deus não permitiu que algum deles viesse a viver na terra de Canaã, exceto Josué e Calebe.2

Assim o povo sofreu as consequências de sua falta de fé e vagou pelo deserto por décadas, enquanto a geração rebelde foi se extinguindo. De milhares de homens que saíram do Egito, apenas Josué e Calebe entraram em Canaã. Deus honrou sua fé, contudo, mesmo assim, passaram anos no deserto com o seu povo.

Hoje vivemos situações análogas. Vemos terras prometidas e experimentamos seus frutos. Porém, ao invés de confiar em Deus em todas as circunstâncias da vida e buscar sua vontade, olhamos para os obstáculos a vencer e os momentos de dificuldade a suportar. Tememos pela autorealização e pelo patrimônio. Optamos por reclamar e culpar lideranças pelos obstáculos que se colocam diante de nós. Às vezes chegamos a eleger novos líderes para nos reconduzir aos “confortos do Egito”. Esquecemos a justiça de Deus, suas promessas, seu cuidado conosco e sua presença em nossa vida.

Cena do filme ´Os Dez Mandamentos´ (1956). Mesmo após testemunharem milagres como o da travessia do mar, os israelitas mostraram-se fracos e escravizados de alma.

Devemos a todo custo fugir dessa atitude fatal. Caso contrário “morreremos no deserto”. “Ora, sendo que ainda continua a promessa de entrar no seu repouso [...], tenhamos o cuidado de não encontrar entre vós quem chegue atrasado.”3

Muitas vezes ao longo da história, pessoas tem vivido experiências como a de Josué e Calebe. Vivência completamente diferente e ao mesmo tempo tão semelhante foi a de Max Planck (1858-1947), patrono da física quântica e ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1919. Em meio a realizações científicas brilhantes -- poderíamos chamá-las uma “terra prometida” para enfatizar o paralelo com Josué e Calebe -- Planck enfrentou adversidades incomuns. Após 12 anos de casamento sua (primeira) esposa faleceu. Um de seus filhos morreu em combate na 1ª Guerra Mundial. Suas duas filhas morreram durante os partos das netas Grete e Ema. Seu filho Erwin foi executado pelos nazistas. Planck viu sua pátria destroçada por um regime perverso. Em seu trabalho científico enfrentou obstáculos significativos, como indica o seguinte trecho autobiográfico: “Uma nova verdade científica não costuma prevalecer pelo convencimento dos seus adversários, mas porque eles pouco a pouco vão desaparecendo e a nova geração de antemão é familiarizada com a verdade”.

Max Planck, prêmio Nobel em Física em 1919.

Assim como Josué e Calebe, Planck nunca desistiu. Falando de sua “fé firme e inabalável no Todo Poderoso e Todo Bondoso,” ele compartilhou sua convicção: “Decerto seus caminhos não são nossos caminhos; mas a confiança nele nos ajuda a vencer as provações mais difíceis”. Graças ao trabalho árduo em sinergia com sua fé, mesmo “no meio do deserto”, Planck legou à humanidade inestimáveis avanços da física, uma vida exemplar e inspiradora e teve a satisfação de vislumbrar o soerguimento da ciência alemã dos escombros em que se encontrava ao final da 2ª Guerra Mundial.

Os relatos de Josué, Calebe e Max Planck ilustram como se manifesta “o poder supremo [que] pertence a Deus e não a nós”. Para um cristão (tal como Planck) “tudo começou quando Deus disse 'que da escuridão brilhe a luz!'. E nossas vidas se encheram de luz quando vimos e entendemos a glória de Deus que brilha na face de Cristo”. É por isto que “muitas vezes ficamos aflitos, mas não somos derrotados. Algumas vezes ficamos em dúvida, mas nunca ficamos desesperados. Temos muitos inimigos, mas nunca nos falta um amigo. Às vezes somos gravemente feridos, mas não somos destruídos”. E na continuação desse mesmo trecho bíblico Paulo termina explicando: “Tudo isso aconteceu para o bem de vocês, a fim de que a graça de Deus alcance um número cada vez maior de pessoas [...] Por isso nunca ficamos desanimados. Mesmo que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia-a-dia. Porque nós não prestamos atenção nas coisas que se veem, mas nas que não se veem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre”.4

Notas
1. Mt 17.20, Bíblia de Jerusalém.
2. Resumido de Nm 13-14, BLH.
3. Hb 4.1, Bíblia de Jerusalém.
4. Trechos de 2 Co 4 em diversas traduções.

Karl Heinz Kienitz é doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça, em 1990, e professor da Divisão de Engenharia Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

Fonte: Ultimato e Blog do Pr. Artur Eduardo

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